Os vários tipos de atractores
Um atractor A
é um conjunto no espaço de fase para o qual tendem todas
as
trajectórias vizinhas e que descreve, por isso mesmo, o
comportamento a longo prazo do sistema para todo um conjunto de
condições iniciais diferentes.
- A é invariante (i.e. se o ponto inicial da
órbita estiver em A, permanece lá).
- A tem uma bacia de atracção (região
do espaço de fase contendo todas as trajectórias que
tendem para A ).
Um sistema pode ter vários atractores. Um exemplo é o
relógio de
pêndulo, o qual acaba por parar, se pusermos o pêndulo a
oscilar com uma amplitude
demasiado pequena, e acaba por ficar a oscilar de forma estável, se a
amplitude
inicial for suficientemente grande. Os atractores dividem-se em quatro
grandes grupos:
- Pontos
- Um atractor pontual é um ponto de equilíbrio para o
qual tendem as órbitas
vizinhas. Exemplo: todas as possíveis órbitas de
um
pêndulo amortecido pela resistência do ar:
-
Ciclos limite
- Um ciclo limite (estável) é uma trajectória
fechada no espaço
de fase para a qual as órbitas vizinhas se aproximam em espiral.
Um
exemplo de sistemas físicos com este tipo de atractor são
os relógios de pêndulo. Se se
largar o pêndulo com uma elongação superior
à de equilíbrio, a
amplitude de oscilação vai diminuindo até se
atingir a amplitude de
equilíbrio; por outro lado, se se largar o pêndulo com uma
amplitude
ligeiramente inferior à de equilíbrio, a amplitude de
oscilação vai aumentado até atingir o valor de
equilíbrio, porque a energia que vai sendo
transferida para o pêndulo pela queda do peso neste caso é
maior do que a energia dissipada pelo atrito.
1: âncora que oscila por acção do pêndulo,
2: extremidade livre,
3: extremidade actuando,
4: a roda de escape recebe o movimento através do carreto,
5: a roda dentada transmite o movimento aos ponteiros do relógio e à roda de escape,
6: o peso faz girar a roda dentada,
7: pêndulo oscilante.
À esquerda um relógio de pêndulo, à direita trajectórias no espaço de fase.
- Toros limite:
- Quando existem duas ou mais frequências em jogo, por exemplo quando se toma um sistema
constituído por dois relógios de pêndulo de
frequências ω1 e ω2,
podemos ter comportamentos mais complexos, onde a órbita limite vive
na superfície de um toro:
Latitude e longitude na superfície de
um toro.
Tal como na superfície da terra, onde qualquer ponto fica
determinado por dois ângulos: a longitude e a latitude,
também qualquer
ponto da superfície de um toro fica determinado pelo
conhecimento de
dois ângulos: u (longitude) e v
(latitude). Podemos então representar o toro pelo plano
enquadrado pelas variáveis u
e v. Por outro lado os
ângulos estão definidos
a menos de voltas inteiras, pois representam pontos numa
circunferência, por essa razão costuma-se retirar o
maior número de
voltas inteiras possível por forma a que o ângulo fique no
intervalo
[0,2π[. Em consequência de tal, os pares de ângulos do plano
u v são representados pelos do quadrado
[0,2π[×[0,2π[. Posto isto temos três formas de visualizar
as trajectórias no toro. Por exemplo, se considerarmos a
trajectória (u,v) = (ω1t,ω2t),
onde ω1 = 2 e ω2 = 3 são
as frequências dos pêndulos e t é o tempo,
temos as três representações seguintes da
trajectória no toro:
As três representações
equivalentes do toro e de curvas sobre este.
Todos os pontos da
rede do primeiro gráfico, cujas as coordenadas são
(2kπ,2lπ), com k e l inteiros,
representam a origem do toro.
A linha enrolada no toro é representada no plano do primeiro
gráfico por uma única linha recta, de declive ω1
/ ω2. A trajectória sobre o toro regressa
à origem do toro e fecha sobre si própria se e só
se aquela recta no plano passar por algum outro ponto da
rede, o que acontece se e somente se o declive da recta for um
número racional. Ora os números racionais são
extremamente
escassos, tão escassos que a
probabilidade
de acertar 'ao calhas' num número racional dentro dos reais
é zero! Quando o
quociente das duas frequências é irracional, o caso típico, passamos a ter uma curva que se enrola
densamente no toro sem nunca se fechar. Em vez de uma linha fechada, o
conjunto invariante é agora todo o toro. Se as
trajectórias vizinhas do toro invariante tendem para o toro,
chamamos a este atractor um toro limite.
Ilustração da diferença entre os casos em que o
quociente das duas
frequências é um numero racional ou irracional.
No 1º caso, a trajectória passa por U
apenas sobre um número finito de segmentos de linha diferentes.
No 2º, cada passagem por U dá-se sobre uma linha diferente.
- Atractores estranhos
- Um atractor no espaço de fase sobre o qual as
órbitas nunca fecham mas se
mantêm
confinadas numa dada região do espaço é
informalmente descrito como estranho
se tiver dimensão não inteira ou se for caótico,
i.e. se houver
dependência sensível das condições iniciais.
O sistema de Rössler, uma
simplificação do sistema de Lorenz, é um dos
sistemas
mais simples que têm um atractor estranho. No applet da
direita
podemos ver uma porção do atractor de Rössler para
os parâmetros
especificados na legenda e podemos inclusivamente rodá-lo para ter uma
ideia melhor da sua disposição no espaço. (Clique no
botão esquerdo do rato
e
mova-o).
Em cima, à esquerda, o sistema de Rössler.
À direita o applet mostrando uma porção do atractor para os parâmetros a = 0.2, b = 0.2 e c = 5.7. O
paralelepípedo envolvente corresponde à região do espaço de coordenadas:
-12 < x < 12,
-12 < y < 12,
-6 < z < 30.
Rössler interessou-se por este sistema como uma forma de modelar a
cinética das reacções químicas fora do equilíbrio,
das quais a reacção de Belousov-Zhabotinskii é um
exemplo. O atractor de Rössler tem
dimensão fractal 2.03.