Toda a gente sabe a diferença entre um segmento de recta e um quadrado:
Um segmento de recta tem comprimento, enquanto um quadrado tem área. No entanto a situação já é menos clara quando consideramos conjuntos estranhos, nomeadamente aqueles que são construídos pela aplicação sucessiva de uma certa regra:
Se tomarmos um quadrado e o ampliarmos à escala 2×, obtemos 4 quadrados do mesmo tamanho.
Enquanto que se o ampliarmos à escala 3×, obtemos 9 quadrados.
Se o ampliarmos à escala k×, obtemos N = k² quadrados do mesmo tamanho.
Para um segmento de recta... logk N = 1,
... e para um cubo logk N = 3 ...
Em geral, se ao ampliarmos à escala k um conjunto C obtemos um conjunto formado por N cópias do conjunto original, dizemos que a dimensão de homotetia é:
ds(C) = logk N.
Ao ampliar a curva de Koch pelo factor de escala de 3...
obtemos 4 cópias da curva original, pelo que a sua dimensão de homotetia é:
ds(C) = logk N = log3 4 ≈ 1,261...
Ao ampliar o pente de Cantor pelo factor de escala de 3...
obtemos 2 cópias do original, pelo que a sua dimensão de homotetia é:
ds(C) = logk N = log3 2 ≈ 0,630...
O mesmo tipo de raciocínio permite mostrar que:
ds(C) = logk N = log3 8 ≈ 1,892...
ds(C) = logk N = log2 3 ≈ 1,584...
Obviamente só podemos calcular a dimensão de homotetia quando o conjunto é um fractal geométrico, i.e. quando o conjunto é auto-semelhante em todas as escalas. No entanto os fractais naturais são apenas estatisticamente auto-semelhantes... A dimensão de Hausdorff-Besicovitch permite cortar este nó górdio; vejamos informalmente como se calcula:
Se pegarmos numa recta e a recobrirmos com caixas de tamanho cada vez mais pequeno,
o número de caixas necessárias para cobrir a recta e o seu respectivo tamanho estão relacionados pela equação:
N(r) = (1/r)d, com d = 1.
Por outro lado se pegarmos num quadrado e o recobrirmos com caixas de tamanho cada vez mais pequeno,
o número de caixas necessárias para cobrir o quadrado e o seu respectivo tamanho estão relacionados pela equação:
N(r) = (1/r)d, com d = 2.
Toda a gente sabe que os triângulos têm dimensão 2. Vejamos o que acontece aplicando o método da contagem de caixas ao seguinte triângulo:
Neste caso obtemos a seguinte equação:
N(1/n) = n(n+1)/2 ~ n²/2, n → ∞...
As equações (1), (2) e (3) indicam que a dimensão é o expoente da lei de potência assimptótica, dado pelo limite:
Vejamos se as dimensões de homotetia que calculámos para o pente de Cantor, a curva de Koch e para os conjuntos de Sierpinski coincidem com a dimensão de Hausdorff-Besicovitch.
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Os exemplos anteriores mostram que os dois conceitos coincidem no caso dos fractais geométricos, basta cobrir cada uma das N cópias obtidas pela ampliação associada ao factor de escala k com uma caixa, tal como fizemos nos exemplos 2 e 3 e como poderíamos ter feito no exemplo 1.