No caso da epidemiologia, este problema tem sido muito estudado no passado muito recente. A invasão de uma população por um agente infeccioso pode dar origem a dois regimes: a extinção da doença, após a infecção de um pequeno número de indivíduos da população; ou então a infecção de uma fracção significativa da população, a qual pode ocorrer só durante um período relativamente curto de tempo, caso em que se fala de um surto epidémico, ou ser permanente, caso em que se diz que a doença é endémica. O limiar que separa a extinção destas duas classes de possíveis evoluções finais chama-se limiar epidémico, ou limiar endémico se a doença persiste na população.
Conforme a susceptibilidade de uma população a uma determinada doença e as características desta (infecciosidade, tempo de recuperação, etc.), o par população / doença pode estar aquém ou além do limiar epidémico / endémico. Curiosamente, a passagem de um para outro destes dois regimes é também uma transição de fase de percolação, cf. figura anterior, e os modelos epidemiológicos discretos têm uma tradução na linguagem da Física Estatística. Foram por isso os físicos que deram as principais contribuições para entender como é que o limiar epidémico depende da estrutura da rede.
No caso das redes ‘scale-free’, sabe-se que esse limiar é muito menor do que seria numa rede regular ou ‘small world’, e é zero no limite da rede infinita. Isto significa que as grandes redes ‘scale-free’ são muito vulneráveis em relação à propagação de agentes infecciosos, propriedade que explica a fácil invasão dos nossos PCs por vírus informáticos que se propagam através da internet.
No caso de redes ‘small world’ e de um par população / doença que estaria acima do limiar endémico se os indivíduos da população interagissem todos com todos, o limiar endémico depende do parâmetro p da rede de ‘small-world’ (rede mundo pequeno), ou seja, do número médio de ligações que cada nodo pode estabelecer a dividir pelo número total de ligações que o nodo poderia estabelecer. A doença extingue-se para valores pequenos de p e a transição para a persistência dá-se no fim do regime de ‘small world’, quando o coeficiente de clustering (aglomeração) começa a diminuir e a afastar-se dos valores característicos das redes regulares. O valor concreto de p, cf. figura da direita, que corresponde à transição depende dos parâmetros da doença e do tamanho da população.
As propriedades da rede de contactos, definidas pelo valor de p, também têm influência na dinâmica a longo termo da infecção acima do limiar endémico. Quando p é maior que este limiar, mas próximo do valor a partir do qual a doença persiste, o número de infecciosos na população varia ao longo do tempo exibindo flutuações importantes em intervalos bastante regulares, num padrão que é semelhante ao das epidemias recorrentes de algumas doenças infantis, cf. figuras seguintes.