Modelação da propagação de doenças contagiosas

A epidemiologia tem 80 anos de história feita com base em modelos contínuos, onde as populações das classes epidemiológicas (infectados, imunes, ou susceptíveis à doença) são tratadas como números reais, e em modelos discretos em que a rede de contactos ou é global e considera-se uma população onde todos interagem com todos, ou é uma rede regular, por exemplo uma rede quadrada com primeiros vizinhos.

Rede de contactos.
Rede de contactos

No entanto, as redes complexas são o suporte natural para o estudo da propagação das doenças infecciosas. A transmissão da doença dá-se segundo uma rede de contactos que depende da distribuição espacial da população, dos seus padrões de mobilidade e também do mecanismo de infecção, mas que inclui sempre uma combinação de transmissão local e uma de longa distância. Com base nesta ideia, e aproveitando as capacidades computacionais actualmente disponíveis, uma nova classe de modelos para a simulação da propagação de infecções, onde a rede de contactos não é nem global nem regular, tem vindo a ser explorada recentemente.

O tipo de rede a considerar depende, é claro, da doença que se pretende modelar. Por exemplo, para doenças sexualmente transmissíveis, alguns estudos sugerem que se tome uma rede ‘scale-free’. Uma das conclusões desses estudos é aliás a de que as campanhas de prevenção deste tipo de doenças serão muito mais eficazes, se forem orientadas para os ‘hubs’ da rede de contactos sexuais. A propagação das doenças infantis como o sarampo ou a rubéola, pelo contrário, pode ser bem modelada sobre uma rede de tipo ‘small world’.

Ondas de infecção num autómato celular (animação).
Ondas de infecção num autómato celular.

Os modelos epidemiológicos são um caso particular de um problema mais geral, que é o de saber qual o papel que a estrutura de uma rede complexa desempenha na evolução dinâmica de um processo que decorre tendo-a com suporte. Conhecemos bem os comportamentos dinâmicos de muitos sistemas cujas unidades constituintes estão globalmente acopladas ou têm as interacções locais definidas por uma rede regular. Como é que esses comportamentos dinâmicos se alteram quando a rede de interacções é uma rede complexa? Dada a ubiquidade das redes complexas, este problema põe-se numa variedade de contextos diferentes e a sua compreensão tem um enorme espectro de aplicações.