Um sistema enganadoramente simples e que contudo serve de paradigma para a autoorganização crítica é a pilha de areia. O conhecimento intuitivo que temos deste sistema pode ser sumarizado da seguinte forma:
Estado subcrítico → estado crítico
Estado supercrítico → estado crítico
As evidências, tanto computacionais como experimentais, apontam no sentido de que o número de avalanches em função do tamanho obedece a uma lei de potência, pelo que podemos dizer que quando o declive da pilha de areia atinge o ângulo de repouso, esta está num ponto crítico.
Suponhamos, por exemplo, que depois do sistema ter atingido o ponto crítico, começamos a deixar cair areia molhada. A areia molhada tem maior atrito que a areia seca (é por essa razão que é mais fácil fazer castelos de areia molhada), pelo que durante algum tempo as avalanches são pequenas e localizadas e menos areia chega ao fundo da pilha. O declive médio da pilha aumenta até se atingir um novo estado crítico. De forma semelhante, se secarmos a pilha de areia, há um aumento temporário de avalanches de grandes dimensões e o declive da pilha torna-se cada vez mais suave até atingir o novo estado crítico.
Independentemente do tipo de areia e das condições iniciais, a pilha de areia evolui inexorável e espontaneamente para um ponto crítico. Contrariamente ao fluido em equilíbrio térmico que requer uma 'sintonização' precisa da pressão e da temperatura para o colocar no ponto crítico, a pilha de areia é um sistema fora do equilíbrio (a areia entra e sai do sistema) que é conduzido a um ponto crítico pela sua dinâmica intrínseca, com o modesto esforço de se deixar cair a areia lenta e uniformemente. O estado crítico da pilha de areia é um atractor e a variação de alguns parâmetros do sistema faz saltar a pilha de areia para um outro ponto crítico, pelo que dizemos que a pilha está num estado de autoorganização crítica.
Este fenómeno foi identificado pela primeira vez por Per Bak, Chao Tang e Kurt Wiesenfeld num trabalho pioneiro publicado em 1987, na Physical Review Letters, e é considerado como sendo um dos mecanismos que pode estar por detrás do aparecimento dos fractais, das leis de potência e da complexidade na Natureza.