O que é então uma Teoria de Tudo? Em primeiro lugar, esse "tudo" não abarca Tudo - "resume-se" à Física de Partículas, tendo embora uma importância imensa em outras áreas da Física, como a Cosmologia. E também já vimos que a Ciência em geral, em última análise, vai encontrar explicação no domínio da Física de Partículas - desde a organização dos níveis de energia dos electrões nos átomos, que depende do Princípio de Exclusão, que é uma consequência dessas partículas serem fermiões; até às estatísticas das partículas, Bose ou Fermi, com tantas aplicações macroscópicas na Matéria Condensada; à base da Cosmologia, onde a Física de Partículas é usada, em última análise, para explicar a estrutura de larga escala do Universo nos dias de hoje. Mas o "tudo" das actuais Teorias de Tudo refere-se a tentarmos explicar, com uma única teoria, a existência das partículas elementares que já conhecemos e as respectivas interacções.
A primeira teoria de tudo partiu, ela também, de um princípio de simetria. Os seus criadores, Giorgi e Weinberg, pensaram que, se as simetrias de gauge funcionavam tão bem para as interacções já conhecidas, porque não o deveriam fazer para uma hipotética teoria unificada? E então foram à procura de um grupo de simetria maior, que pudesse conter os três grupos já conhecidos. Ora, aqui observamos uma coisa curiosíssima: os grupos do tipo SU(N) têm um número de geradores (os "eixos de rotação" da secção anterior) dado por N2 - 1. Repare-se que para SU(2) isto dá-nos três geradores, aquilo que tínhamos discutido; e para SU(3), os oito referidos anteriormente. Quer isto dizer que para o grupo SU(5), teríamos 52 - 1 = 24 geradores, ou seja, 24 "eixos de rotação" diferentes para a teoria.
E depois? Bom, pensem nas três interacções já conhecidas: o Electromagnetismo corresponde a uma rotação, as interacções fracas a três e as interacções fortes, a oito. Então, de quantas formas diferentes podemos "rodar"? Por cada "rotação electromagnética" podemos fazer três "rotações" fracas e oito "rotações" fortes. Ou seja, um total de 1 × 3 × 8 = 24 "rotações" diferentes - exactamente aquilo que esperaríamos se a simetria total do sistema fosse SU(5)!
De facto a primeira teoria de Unificação baseou-se no grupo SU(5). Era uma teoria muito bonita e notável, mas infelizmente não funcionou. Entre outras coisas, a teoria previa que os protões fossem partículas instáveis, algo que as experiências não comprovaram. Mas foi o ponto de partida para muitas outras tentativas, baseadas em grupos cada vez mais exóticos: SO(10), E6 × E6, ...
Mas afinal de contas o que é que queremos que uma Teoria de Tudo faça?
Que reduza o número de parâmetros desconhecidos dos nossos modelos (actualmente cerca de 20).
Que explique porque é que as partículas elementares têm massas tão diferentes entre si.
Que nos faça perceber porque é que o Universo é feito de matéria e não de anti-matéria.
Que consiga juntar a gravitação às outras três interacções para as quais temos teorias qu ânticas.
E qual ser á o melhor caminho a seguir para obtermos a tão esperada teoria de Tudo? Actualmente as melhores possibilidades parecem ser:
Concluindo... Podemos estar prestes a obter uma teoria única que explique tudo da Física de Partículas, ou prestes a admitir que ainda temos muito trabalho pela frente até podermos conceber uma Teoria de Tudo. Os próximos anos trarão esclarecimentos teóricos e dados experimentais fulcrais para estas discussões, e quem trabalha nesta área sente que a comunidade científica mundial está à beira de uma nova revolução. Uma nova área para o conhecimento humano está mesmo ao virar da esquina – A teoria de Tudo, talvez, está prestes a deixar-se conhecer.