Em 1968, Cyrus Levinthal, um físico de formação que trabalhava em biologia molecular, mostrou que a hipótese termodinâmica de Christian Anfinsen não encerrava de modo algum a discussão sobre o problema do folding das proteínas.
Levinthal levantou uma objecção à ideia implícita na hipótese termodinâmica de que a procura do estado nativo (que é único!) possa ser feita de forma aleatória.
O seguinte argumento mostra que a hipótese termodinâmica não explica a escala de tempo que se observa no processo de folding:
Estamos assim perante um problema, já que o folding de proteínas deste tamanho leva no máximo alguns segundos. Este resultado, que sugere que a hipótese termodinâmica é incompatível com uma escala de tempo biológica para o folding, viria a ficar conhecido como o paradoxo de Levinthal.
Foi o próprio Levinthal o primeiro a propor uma solução para o paradoxo que encontrou. Ao invés de achar o estado nativo através de um processo que envolve a exploração aleatória de todas as conformações a que tem acesso, a proteína percorre antes um caminho de folding (folding pathway) bem definido, composto por vários estados intermediários e no fim do qual se encontra o estado nativo:
Os estados intermediários I1, I2, etc. hipotizados por Levinthal são estados cuja estabilidade termodinâmica é tal que o intervalo de tempo que a proteína aí demora é suficientemente longo para que possam ser detectados experimentalmente. No entanto, ao contrário do que acontece na hipótese termodinâmica, o estado nativo (N) não corresponde necessariamente ao estado termodinâmico mais estável, mas sim, ao estado de energia mínima que é o mais acessível do ponto de vista cinético.
Com base na proposta de Levinthal, a investigação experimental em folding de proteínas foi até ao início de 1990 dominada em grande parte pela procura de intermediários suficientemente estáveis para que pudessem ser isolados e devidamente caracterizados.
No entanto, em 1991 descobriu-se que a CI-2, uma pequena proteína com 100 aminoácidos, "folda" rapidamente e sem passar por intermediários estáveis, o que mostra que a existência destes últimos não é de todo um requisito necessário para que o folding seja rápido.
A perspectiva clássica do folding de proteínas é baseada na dicotomia termodinâmica - cinética e na abordagem tradicional da Bioquímica, que considera cada molécula um sistema único. No entanto, como vimos, nem uma nem outra não resolvem o mistério da forma das proteínas. Como veremos, só a partir dos anos 90 do séc. XX é que se dá um passo em frente no entendimento do fenómeno. Uma das contribuições mais importantes da Física para a compreensão do folding de proteínas foi precisamente a reconciliação das perspectivas de Anfinsen e Levinthal numa teoria unificada que se baseia na natureza estatística do processo.