Estabilidade dos colóides

A estabilidade dos colóides depende em grande medida das propriedades da fase dispersa, nomeadamente se esta é liofílica ou liofóbica. O termo lio refere-se ao meio dispersante. Os termos mais familiares fóbico (do grego, "ter medo") e fílico (do grego, "gostar") servem para indicar se as partículas dispersas têm uma afinidade fraca (liofóbica) ou forte (liofílica) com o meio dispersante. Esta distinção tem uma base experimental. Em geral, os colóide liofílicos são bastante fáceis de preparar, bastante estáveis e razoavelmente simples de reconstruir. Os colóides liofóbicos geralmente são menos estáveis e são excepcionalmente difíceis de reconstruir.

Um exemplo comum de sistema liofílico é o sabão disperso na água. O óleo suspenso na água, pelo uso de uma técnica de dispersão por ultra-sons, por exemplo, representa um colóide liofóbico típico.

A rigidez inerente dos colóides não fluidos, tais como as espumas sólidas ou os sóis sólidos é, naturalmente, o factor principal que determina a sua estabilidade. Muitos colóides líquidos são estabilizados pela a adição de surfactantes (também chamados anfifílicos), os quais são moléculas que têm uma região liofílica e uma liofóbica.

Disposição das moléculas de um surfactante numa lâmina de água em contacto com o ar.

Exemplos comuns deste tipo de moléculas são o sabão e os detergentes, os quais têm uma cabeça hidrofílica e uma cauda hidrofóbica. O mecanismo da estabilização baseia-se na formação de micelas:

Micela, secção recta.
Micela, secção recta.

As micelas normais, onde as moléculas do surfactante envolvem a substância hidrofóbica (óleo, por exemplo). Esta é uma forma bastante eficiente de estabilizar uma emulsão de óleo na água, pois o surfactante cria uma barreira mecânica que envolve cada gotícula de óleo, impedindo que estas se juntem quando chocam entre si. A existência de cargas do mesmo sinal, associadas às cabeças hidrofílicas, é um factor adicional de estabilidade devido às repulsões electrostáticas entre as micelas.

Micela invertida, secção recta.
Micela invertida, secção recta.

As micelas invertidas, onde as moléculas do surfactante envolvem a substância hidrofílica (água, por exemplo). Neste caso as cabeças hidrofílicas ficam em contacto com a água e as caudas hidrófobas ficam em contacto com o óleo, blindando as gotículas de água e impedindo desta forma que estas se juntem quando chocam entre si.

É graças à formação das micelas que os sabões e detergentes dispersam a gordura das nódoas na água. Porém os sabões e detergentes não são os únicos surfactantes. Por exemplo, a estabilidade do leite deve-se à caseína (proteína) e a da maionese à lecitina (proteína) presente na gema de ovo, onde a caseína e a lecitina funcionam como surfactantes. Por outro lado, a adição das enzimas presentes no coalho ao leite destrói as micelas de caseína, o que permite que estas se aglutinem e dêem origem ao queijo depois da extracção do soro.

Disposição das moléculas de um surfactante numa espuma.

Os surfactantes têm também um papel importante na estabilização das espumas líquidas, pois as moléculas do surfactante que estão à superfície fazem diminuir a tensão superficial da água. A água pode assim distribuir-se por películas finas, ao invés de procurar concentrar-se num volume o mais compacto possível de forma a minimizar a área de contacto com o ar. É por esta razão que as bolas de sabão são tão estáveis.

Disposição das moléculas de um surfactante numa lâmina de água em contacto com o ar.
Bola de sabão.
diagrama

Para certas proporções de água, óleo e surfactante podem aparecer estruturas muito mais complexas que as micelas. O diagrama seguinte ilustra este comportamento.

O diagrama lê-se da seguinte forma: – Um ponto P no interior do triângulo equilátero representa as proporções de água, dada pela altura h2, (lado vermelho); óleo, dada pela altura h3, (lado azul) e surfactante, dada pela pela altura h1 (lado amarelo), conforme ilustrado na figura da direita. A soma destas três proporções é sempre 100%. Para nos convencermos, basta notar que a área do triângulo equilátero A é igual à soma das áreas dos triângulos amarelo, vermelho e azul, i.e. A = ½h1 + ½h2 + ½h3.

Diagrama de fase para uma mistura ternária de água, surfactante e óleo.